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Fênix – da morte ao renascimento

02/10/2009

fenix Conversando com a minha amada amiga e terapeuta sobre as situações que a vida nos impõe e sobre a nossa capacidade de transcendência, ela me chamou a atenção para o famoso caso do Palace 2, que ocorreu no Rio de Janeiro, e sobre o que é ser como a mitológica ave Fênix diante das tragédias públicas e pessoais. Pois senão, vejamos: sabe lá o que é perder tudo, eu disse TUDO, o que se construiu na vida, desde móveis, roupas, lembranças, fotos, até documentos e ainda constatar que não tem para onde ir de uma hora para outra? Ver sua existência ali, em destroços, sem possibilidade de resgate? O caso, que chocou o Brasil, aconteceu no dia 22 de fevereiro de 1998, quando o edifício, na Barra da Tijuca, desabou parcialmente, causando a morte de oito pessoas e deixando 130 famílias desabrigadas. Seis dias depois, após ocorrer outro desabamento, o restante do prédio foi implodido. Fico a imaginar (se é que é possível…) o que seja a sensação de fragilidade, insegurança absoluta e medo, eu diria verdadeiro pânico, do amanhã. Famílias inteiras que ficaram só com a roupa do corpo e o trauma de ver tudo o que construíram sob os destroços. Pessoas como Marco Silva, que levou do seu apartamento 607, onde morava com a mulher e dois filhos, apenas um par de chinelos e um short. Além do valor do imóvel – cerca de US$ 130 mil –, já quitado, Silva perdeu um carro, móveis e roupas. Sua mulher, Alice de Moraes Silva, teve uma crise nervosa depois da tragédia, saiu andando pela rua e foi encontrada três dias depois, num hospital, em estado de choque. É nesse momento que entra o mito do renascimento. Diz a mitologia que a Fênix é descrita como uma “ave fabulosa, do tamanho de uma águia, que, depois de uma longa vida, consumia-se a si própria através do fogo e renascia de suas próprias cinzas”. Esse mito encontra ressonância na Alquimia, em sua etapa denominada calcinatio ou Calcinação, quando a matéria-prima, com que o alquimista está trabalhando, chega ao seu ponto máximo de putrefação e, aparentemente, não teria mais utilidade. Nessa fase, a matéria-prima é queimada, ou calcinada, ou ainda, sacrificada, e, com suas cinzas, a opus alquimia entra em uma nova etapa. Os aspectos do simbolismo aparecem, então, com clareza: – ressurreição e morte, o reaparecimento cíclico, o que nasce da podridão. É por isso que os povos que viveram na Idade Média fizeram da Fênix, o símbolo da Ressurreição de Cristo e também da Natureza Divina, sendo a Natureza Humana, representada pelo Pelicano. A Fênix evoca o fogo criador e destruidor, no qual o mundo tem a sua origem e ao qual deverá o seu fim; ela é como um substituto da divindade hindu Shiva, que representa a renovação da natureza e do poder de transformação do canto e da música de Orfeu. Silva e a família, com a energia arquetípica da Fênix ativada, compraram outro apartamento e hoje vivem bem. Após o desabamento, eles moraram apenas quatro meses num quarto do hotel Atlântico Sul, no Recreio (zona Oeste), pago por Sérgio Naya para hospedar os desabrigados. Quase dez anos depois da tragédia que se abateu sobre 130 famílias, 19 delas ainda moram no hotel. Eis o outro lado da moeda do renascimento: a estagnação, a paralisia e a incapacidade de se movimentar frente ao desconhecido, ao futuro, ao nada, ao misterioso. Um exemplo é o de um representante comercial que tinha um apartamento no local. Ele disse que sua família não se recuperou do trauma. “Nosso padrão de vida caiu muito. Perdemos um pouco do referencial. Já até aceitamos receber valor inferior ao que valia o imóvel, mas não recebemos a indenização”, lamentou-se. Não cabe aqui julgar qual a melhor reação diante de tanta tragédia. Porém, cabe uma reflexão sobre a nossa capacidade de transcendência e de transformação. Fica evidente que algumas pessoas conseguem esse renascimento e, através de seu potencial, potencial este que não pode ser destruído como um prédio, conseguiram se reerguer e não ficaram empacados, estagnados, à espera de uma decisão da Justiça sobre o caso. Não que essa indenização não seja importante e justa. Sem dúvida nenhuma ela é. Mas, a angustiante espera e comprometimento deste tempo (que até agora foi de dez anos) cria uma armadilha, nem sempre tão evidente. Situações como esta podem literalmente matar uma pessoa de ansiedade, angústia e revolta. Podem gerar um câncer ou doença grave. Falo por experiência própria, já que pude apenas ‘vislumbrar’ o sofrimento de quem estrutura toda a sua vida em cima de ‘coisas’ e ‘patrimônio’, como se elas definissem quem e o quê somos. Sofri, mas consegui entender e refletir sobre a situação e escolher tentar outra reação. Continuo buscando a minha própria Fênix e sinto-a cada vez mais perto quando necessário.ois senão, vejamos: sabe lá o que é perder tudo, eu disse TUDO, o que se construiu na vida, desde móveis, roupas, lembranças, fotos, até documentos e ainda constatar que não tem para onde ir de uma hora para outra? Ver sua existência ali, em destroços, sem possibilidade de resgate? O caso, que chocou o Brasil, aconteceu no dia 22 de fevereiro de 1998, quando o edifício, na Barra da Tijuca, desabou parcialmente, causando a morte de oito pessoas e deixando 130 famílias desabrigadas. Seis dias depois, após ocorrer outro desabamento, o restante do prédio foi implodido. Fico a imaginar (se é que é possível…) o que seja a sensação de fragilidade, insegurança absoluta e medo, eu diria verdadeiro pânico, do amanhã. Famílias inteiras que ficaram só com a roupa do corpo e o trauma de ver tudo o que construíram sob os destroços. Pessoas como Marco Silva, que levou do seu apartamento 607, onde morava com a mulher e dois filhos, apenas um par de chinelos e um short. Além do valor do imóvel – cerca de US$ 130 mil –, já quitado, Silva perdeu um carro, móveis e roupas. Sua mulher, Alice de Moraes Silva, teve uma crise nervosa depois da tragédia, saiu andando pela rua e foi encontrada três dias depois, num hospital, em estado de choque. É nesse momento que entra o mito do renascimento. Diz a mitologia que a Fênix é descrita como uma “ave fabulosa, do tamanho de uma águia, que, depois de uma longa vida, consumia-se a si própria através do fogo e renascia de suas próprias cinzas”. Esse mito encontra ressonância na Alquimia, em sua etapa denominada calcinatio ou Calcinação, quando a matéria-prima, com que o alquimista está trabalhando, chega ao seu ponto máximo de putrefação e, aparentemente, não teria mais utilidade. Nessa fase, a matéria-prima é queimada, ou calcinada, ou ainda, sacrificada, e, com suas cinzas, a opus alquimia entra em uma nova etapa. Os aspectos do simbolismo aparecem, então, com clareza: – ressurreição e morte, o reaparecimento cíclico, o que nasce da podridão. É por isso que os povos que viveram na Idade Média fizeram da Fênix, o símbolo da Ressurreição de Cristo e também da Natureza Divina, sendo a Natureza Humana, representada pelo Pelicano. A Fênix evoca o fogo criador e destruidor, no qual o mundo tem a sua origem e ao qual deverá o seu fim; ela é como um substituto da divindade hindu Shiva, que representa a renovação da natureza e do poder de transformação do canto e da música de Orfeu. Silva e a família, com a energia arquetípica da Fênix ativada, compraram outro apartamento e hoje vivem bem. Após o desabamento, eles moraram apenas quatro meses num quarto do hotel Atlântico Sul, no Recreio (zona Oeste), pago por Sérgio Naya para hospedar os desabrigados. Quase dez anos depois da tragédia que se abateu sobre 130 famílias, 19 delas ainda moram no hotel. Eis o outro lado da moeda do renascimento: a estagnação, a paralisia e a incapacidade de se movimentar frente ao desconhecido, ao futuro, ao nada, ao misterioso. Um exemplo é o de um representante comercial que tinha um apartamento no local. Ele disse que sua família não se recuperou do trauma. “Nosso padrão de vida caiu muito. Perdemos um pouco do referencial. Já até aceitamos receber valor inferior ao que valia o imóvel, mas não recebemos a indenização”, lamentou-se. Não cabe aqui julgar qual a melhor reação diante de tanta tragédia. Porém, cabe uma reflexão sobre a nossa capacidade de transcendência e de transformação. Fica evidente que algumas pessoas conseguem esse renascimento e, através de seu potencial, potencial este que não pode ser destruído como um prédio, conseguiram se reerguer e não ficaram empacados, estagnados, à espera de uma decisão da Justiça sobre o caso. Não que essa indenização não seja importante e justa. Sem dúvida nenhuma ela é. Mas, a angustiante espera e comprometimento deste tempo (que até agora foi de dez anos) cria uma armadilha, nem sempre tão evidente. Situações como esta podem literalmente matar uma pessoa de ansiedade, angústia e revolta. Podem gerar um câncer ou doença grave. Falo por experiência própria, já que pude apenas ‘vislumbrar’ o sofrimento de quem estrutura toda a sua vida em cima de ‘coisas’ e ‘patrimônio’, como se elas definissem quem e o quê somos. Sofri, mas consegui entender e refletir sobre a situação e escolher tentar outra reação. Continuo buscando a minha própria Fênix e sinto-a cada vez mais perto quando necessário.