Como é bom ser quarentona!

Dia desses uma amiga da adolescência me enviou um recado na rede de relacionamentos do Orkut, lembrando os velhos tempos e dizendo que tinha saudades daquela época. Na boa, mandei um retorno explicando que saudades mesmo eu não sinto não. Foi uma época de muita turbulência, ansiedades, conflitos familiares e muitas, muitas dúvidas sobre tudo e todos. Também, eram três mulheres em plena efervescência adolescente, duas na pré-adolescência, meu irmão, com menos de dez anos, e meus pais (em uma relação tumultuada e neurótica), convivendo sob o mesmo teto. Acho que é demais para qualquer ser humano…
Claro que não renego nada do que passei. Fui construída por todos os eventos, fatos e fases da minha vida. Porém, como gosto de ter meus 40 anos!
Depois de quase uma década de psicoterapia, com a chegada da maturidade e da maternidade me sinto feliz e em paz. Poderia, mesmo sob críticas contundentes, até mesmo assumir, sem constrangimentos, meus cabelos brancos e parar de tingí-los. Sinceramente, acho bonito cabelos grisalhos mesmo para as mulheres. “Ah!” Muitas vão dizer, “isso envelhece muito e demonstra falta de cuidado”. Como se as manchas senis nas minhas mãos, minha pele ressecada, minhas rugas de expressão, meus “quilinhos” a mais e a diminuição no volume do meu cabelo já não denunciassem esse envelhecimento.
Mas se perco com o tempo no lado da estética física, ganho em flexibilidade, generosidade, paciência, segurança, fé, paz, consciência, emoção, humildade, resiliência, aceitação, passividade, feminilidade, entre outras riquezas que me permiti desenvolver ao longo da jornada.
Quanto mais o tempo passa, menos eu devo para o mundo e isso é um alívio.
Também não quer dizer que não tenha minhas recaídas, como a situação do furto do meu carro, mas acredite, em outros tempos minhas reações seriam muito, mas muito mais intensas…
Cada dia que passa me sinto mais à vontade nesse meu “envólucro”, apesar das celulites, varizes, estrias e flacidez. É claro que o fato de não estar envolvida amorosamente com um homem ajuda a manter esse bem-estar, esta calmaria… Mas, aí!, como é bom viver assim… simplesmente aceitando as coisas como elas são…
Estava fazendo pesquisa no Google, quando encontrei esta pérola, que expressa tão bem o que eu sinto:
“Deixar a porta aberta para o envelhecer tem um resultado acalentador. Em troca, o amadurecimento entra com respeito, sem gerar tanta angústia. Aceitar, sim. Porque às vezes o medo que sentimos diante de uma nova ruga tem menos a ver com a auto-estima e mais com a resistência em mudar.”

Também quero compartilhar deste poema de Viviane Mosé sobre o tempo, que é uma delícia…

TEMPO
Quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele,
soprando sulcos na pele, soprando sulcos?
O tempo andou riscando meu rosto
com uma navalha fina
sem raiva nem rancor
O tempo riscou meu rosto
com calma
(eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença)
Acho que a vida anda passando a mão em mim.
A vida anda passando a mão em mim.
Acho que a vida anda passando.
A vida anda passando.
Acho que a vida anda.
A vida anda passando,
A vida anda em mim.
Acho que há vida em mim.
A vida em mim anda passando.
Acho que a vida anda passando a mão em mim
e por falar em sexo, quem anda me comendo é o tempo
Na verdade, faz tempo, mas eu escondia
porque ele me pegava à força e por trás
Um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e me olhando nos olhos
Acho que ganhei o tempo
De lá para cá, ele tem sido bom comigo
Dizem que ando até remoçando…

Tags:

10 Respostas to “Como é bom ser quarentona!”

  1. Maria Fernanda Says:

    Sabe que com certa frequência penso que queria chegar aos 40 mais rápido? Chego nos trinta esse ano, mas acho que aos 40 vou poder sentir isso que você está sentido: paciência, generosidade, parcimônia… beijinhos!

    • Carol Says:

      Espero que você mantenha sempre as suas qualidades inquisidora, meio rebelde, ousada, criativa, inteligente e “pimentinha”. O resto, vem com o tempo. O dragão que mora dentro da gente vai aos poucos se acalmando, de repente vira lagartixa, e o mar revolto se transforma em um rio caudaloso. Afinal, é preciso equilíbrio e ganhos no processo de envelhecer, não é mesmo?
      Beijos, (tenho saudades de você e da sua conversa sempre inteligente e perspicaz).

  2. Maria Ignês Says:

    Minha querida quarentona.
    Perfeito o seu artigo. Adorei. Lembrei de um poema da Cecília Meireles, O Espelho, em que num ponto ela pergunta: em que espelho ficou perdida a minha face?
    Também acho que Deus foi muito sábio com as mulheres. Você já imaginou a gente com a cabeça de agora e o corpinho e a beleza dos 18 anos? Não ia sobrar pra ninguém!!!!
    Beijos, te amo
    Maria Ignês

  3. andrea Says:

    maria ingnes , vc é otima.!

    ana carolina , q texto fantastico !!

  4. Rosana Says:

    Adorei, Carol!

    Bjs.

  5. Victorio Says:

    Essa sua manifestação é algo de inconfundível. Cada fase da vida apresenta uma situação peculiar e você vive agora uma pela qual já passei. Parabéns pelo belo texto

  6. J.CARLOS VIEIRA Says:

    A interatividade é atributo indissociável do “blog” e expressando reflexão no “Circo…” , não obtendo resposta, supus ter-se perdido no espaço virtual. Essa afirmação revela minha limitação nessa área da tecnologia. Mas hesitei em pronunciar-me nos posteriores, sobretudo nos temas “Tempo…” e “O Contador…” , por avaliar ser inútil ante a repetição da aludida perda, a significar também a dispersão de tempo para redigi-los. Todavia, decidi experenciar a manifestação na expectativa de chegar ao conhecimento da “bloguista” e desta feita ter retôrno. A postura assumida no texto, nada surpreendente para quem a conhece, revela maturidade por compreender ser o corpo um templo abrigando memórias mais arcaicas e sutis . Por isso temos que ser bons guardiões desse templo, cuidando para mantê-lo higido e longevo a fim de chegar no inverno existencial quando inexoravelmente dar-se-á a travessia, sem sofrimento e sereno para, como disse Tagore : chegou a hora da partida, meus irmãos e minhas irmãs. Já entreguei a chave de minha porta…” O cuidado, no entanto, não significa adulterá-lo em seu processo de natural degenerescência biológica.Mas a rara aceitação do envelhecer é própria da sociedade contemporânea, impondo a “ditadura da beleza” e para isso são criados padrões,como se o ser humano pudesse ser formatado e “produzido” segundo o receituário do momento. Mas isso interessa ao capitalismo que subliminarmente propaga esses padrões para vender desde cosmésticos, até cirurgias plásticas e outros “milagres” da indústria quimica , com reflexos psicológicos e emocionais, levando a disturbios para serem administrados, por quem possua condições financeiras, pelos terapeutas. Esse pois é mais um tema a revelar a patologia social. Importante, contudo, ressaltar o lado positivo do envelhecimento “saudável” : a experiência e avalio que a mulher (e o homem também aos cinquenta ou sessenta, sem que se interprete essa assertiva como casuística) em seu quaternário ser a fase mais exuberante , quando conhece tudo ou quase.., sobre a sexualidade e aprendeu a escolher como mais discernimento os parceiros .Balzac imortalizou em sua obra a qualificação da mulher não aos quarenta mais aos trinta, considerando que na época, a longevidade era menor relativamente aos dias atuais. Mas como foi transcrito belo poema no texto, também o faço de um poema de Cecília Meirelles, pertinente ao tema e por mim já declamado à querida bloguista : Não sejas o de hoje, não suspires por ontens, não queiras ser o de amanhã. Faze-te sem limites no tempo. Vê tua vida em todas as origens, em todas as existências, em todas as mortes e sabe que serás assim para sempre. Não queiras marcar a tua passagem, ela prossegue. É a passagem que continua. É a tua eternidade. És tu. Beijos

    • Carol Says:

      Zé,

      Todos os seus comentários, feitos e recebidos, são gravados no blog e respondidos por mim. Não me lembro exatamente da resposta que escrevi para você, neste caso, por e-mail. De fato, algumas coisas se perdem quando o assunto é tecnologia. Não deixe de se expressar neste espaço, gosto sempre das tuas palavras.
      Soube que participou de um sarau. Como foi? Com certeza conteúdo não faltou…
      Beijos,
      Carol.

Deixe um comentário